Doença Respiratória Exacerbada por Aspirina (AERD): Como lidar com asma e sensibilidade a anti-inflamatórios

Doença Respiratória Exacerbada por Aspirina (AERD): Como lidar com asma e sensibilidade a anti-inflamatórios
26 outubro 2025 3 Comentários Edvaldo Carvalheiro

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Lembre-se: AERD (Doença Respiratória Exacerbada por Aspirina) afeta cerca de 9% dos adultos com asma e 30% dos que têm pólipos nasais. Pacientes com AERD devem evitar todos os anti-inflamatórios não esteroides (NSAIDs).

Quando alguém menciona a Doença Respiratória Exacerbada por Aspirina (AERD) é um conjunto de condições que inclui asma, sinusite crônica com pólipos nasais e sensibilidade a aspirina e anti‑inflamatórios não esteroides, o que vem à mente?

Resumo rápido

  • Afeta cerca de 9% dos adultos com asma e até 30% dos que têm pólipos nasais.
  • Sintomas típicos: congestão nasal, perda de olfato, chiado, crises após aspirina ou álcool.
  • Diagnóstico exige histórico clínico e, muitas vezes, teste de desafio com aspirina.
  • Tratamento inclui evasão de NSAIDs, desensibilização à aspirina, corticoides e biológicos como dupilumab.
  • Pesquisas recentes apontam novos inibidores de leucotrieno (ex.: lodadustat) como promessas para o futuro.

O que é AERD?

A Asma doença inflamatória crônica das vias aéreas que causa chiado, tosse e falta de ar faz parte da tríade de Samter, junto com Polipose Nasal crescimento de pólipos na mucosa nasal que obstrui a passagem de ar e favorece infecções e sensibilidade a NSAIDs anti‑inflamatórios não esteroides que inibem a enzima COX‑1. A combinação desses três fatores define a AERD, também chamada de síndrome de Samter.

Epidemiologia: quem são os pacientes?

Estudos da American Academy of Allergy, Asthma & Immunology (2023) mostram que aproximadamente 9% dos adultos com asma têm AERD. Entre os que apresentam pólipos nasais, esse percentual sobe para 30%. A condição costuma surgir entre os 20 e 50 anos, sem ligação genética clara. Mulheres são ligeiramente mais afetadas, e há disparidades raciais - pacientes negros e hispânicos costumam demorar até 3,2 anos a mais para receber diagnóstico.

Como a doença se manifesta?

Os sinais dividem‑se em superiores e inferiores. Nos superiores, mais de 98% dos pacientes relatam congestão nasal crônica e quase todos apresentam pólipos nasais recorrentes. A perda de olfato (anosmia ou hiposmia) afeta >90% dos casos, e sinusites frequentes são relatadas por 85%.

No nível pulmonar, cerca de 78% têm chiado, 72% sentem aperto torácico, 83% tosse e 65% falta de ar. Quando expostos a aspirina ou a outro NSAID medicamento que bloqueia a ciclooxigenase‑1 e pode desencadear reações respiratórias em AERD, os sintomas surgem entre 30 e 120 minutos, incluindo congestão nasal intensa (95% dos episódios), dor de cabeça frontal (88%), olhos lacrimejantes (76%) e piora da asma (92%).

Um ponto curioso: cerca de 75% dos pacientes também desenvolvem sintomas após consumir álcool, às vezes com apenas um gole.

Cena de teste de provocação com aspirina mostrando eosinófilos invasores no ar.

Por que aspirina e NSAIDs provocam crises?

A raiz está no metabolismo do ácido araquidônico. Em AERD, a inibição da COX‑1 enzima responsável pela produção de prostaglandinas anti‑inflamatórias por aspirina ou NSAIDs leva a um desbalanço: aumenta a produção de Leucotrieno E4 um potente mediador inflamatório que causa broncoconstrição e edema e diminui a síntese de Prostaglandina E2 substância que normalmente modera a inflamação e protege as vias aéreas. O excesso de leucotrienos e a falta de prostaglandina E2 geram um ambiente hiper‑inflamatório, recrutando Eosinófilos células brancas do sangue que participam das respostas alérgicas e liberando citocinas tipo 2 (IL‑4, IL‑5, IL‑13).

Diagnóstico: como confirmar AERD?

Não há exame de sangue definitivo, mas a história clínica costuma ser bastante reveladora. O passo‑a‑passo típico inclui:

  1. Identificar a tríade: asma, pólipos nasais e reação a aspirina/NSAIDs.
  2. Realizar teste de provocação com aspirina em ambiente controlado - o "aspirin challenge" - que mede a queda de FEV1 ou o aumento de leucotrieno no ar expirado.
  3. Em casos de dúvida, usar exames de imagem (tomografia de sinusite) para avaliar o volume e a extensão dos pólipos.

É fundamental que o teste seja feito por um especialista em alergia ou otorrinolaringologia, pois a reação pode ser grave.

Opções de tratamento

O manejo de AERD combina três pilares: evitar gatilhos, reduzir a inflamação e, quando possível, reprogramar a resposta ao aspirina.

Evasão de gatilhos

Parar o uso de todos os NSAIDs anti‑inflamatórios não esteroides que podem desencadear crises em AERD é o primeiro passo. Muitos pacientes descobrem que apenas o ibuprofeno já provoca sintomas. Além disso, limitar o álcool (ou evitá‑lo) reduz o número de crises em até 75% dos casos.

Terapia anti‑inflamatória

Os corticoides inalados continuam a base para controlar a asma, porém apenas 35% dos pacientes conseguem controle adequado só com eles. Para os pólipos nasais, sprays nasais de esteroide são úteis, mas as recorrências são altas (70‑100% em 18 meses).

Nos últimos anos, os Biológicos medicamentos de alto custo que bloqueiam alvos específicos do sistema imunológico ganharam espaço. O Dupilumab anticorpo monoclonal que inibe IL‑4 e IL‑13, indicado para asma e pólipos nasais mostrou eficácia em 60% dos pacientes AERD, reduzindo tamanho dos pólipos e necessidade de cirurgias.

Desensibilização à aspirina

Considerada a estratégia mais eficaz a longo prazo, a Desensibilização à Aspirina protocolo que expõe o paciente a doses crescentes de aspirina até que ele tolere o medicamento pode diminuir em até 85% as crises de asma e reduzir a taxa de recorrência de pólipos em 60%. O tratamento requer internação de 2‑3 dias, seguida de manutenção diária (650 mg duas vezes ao dia) por tempo indeterminado.

Inibidores de leucotrieno (novas fronteiras)

Medicamentos como o montelucaste já são usados, mas a pesquisa de 2023 trouxe o Lodadustat inibidor de leucotrieno em fase 2 com redução de 70% na recorrência de pólipos como candidato promissor. Ainda não está amplamente disponível, porém indica a direção de terapias mais seletivas.

Paciente segurando dupilumab e lodadustat, simbolizando esperança no tratamento.

Dicas práticas para o dia a dia

  • Monte uma lista de medicamentos proibidos - inclua todos os NSAIDs, até aqueles em pomadas ou cremes.
  • Carregue sempre um plano de ação para a asma, com broncodilatador de resgate.
  • Se precisar de analgesia, consulte seu alergista; opções como acetaminofeno são geralmente seguras.
  • Mantenha um diário de sintomas após consumo de álcool para identificar limites pessoais.
  • Faça acompanhamento regular com otorrinolaringologista; a remoção cirúrgica dos pólipos pode ser necessária, mas combine com terapia medicamentosa para evitar recorrência.

Novas pesquisas e o futuro da AERD

O AERD Research Consortium recebeu, em 2023, um financiamento de US$ 5,2 milhões do NIH para criar um registro nacional de pacientes. Dados preliminares já apontam que a identificação precoce, combinada com terapia biológica, pode cortar em 40% as cirurgias de sinusite até 2028.

Além do lodadustat, outras moléculas que modulam a via de 5‑lipoxigenase estão em testes clínicos. A expectativa é que, nos próximos anos, a medicina de precisão permita escolher o tratamento com base no perfil de leucotrienos de cada paciente.

Entretanto, disparidades de acesso ainda são um obstáculo. A maioria dos centros especializados está nos EUA; no Brasil, poucos hospitais públicos têm protocolos de desensibilização. Pressionar por políticas de saúde que incluam esse procedimento pode mudar o panorama nos próximos cinco anos.

Perguntas frequentes

A desensibilização à aspirina é segura?

Quando feita em ambiente hospitalar com monitoramento contínuo, o risco de reação grave é <1 %. O protocolo inclui pré‑tratamento com corticoides e antihistamínicos para minimizar os sintomas.

Posso usar paracetamol em vez de ibuprofeno?

Sim. O paracetamol (acetaminofeno) não inibe a COX‑1 e costuma ser bem tolerado. Contudo, sempre verifique a formulação, pois alguns combinações podem conter NSAIDs.

Qual a diferença entre AERD e asma tradicional?

A principal diferença está na sensibilidade a aspirina/NSAIDs e na presença de pólipos nasais. Pacientes com AERD tendem a ter crises mais graves e resposta menor aos corticoides isolados.

Quanto tempo leva para notar melhorias após iniciar dupilumab?

Em média, os pacientes relatam redução de sintomas nasais e melhora da asma entre 4 e 12 semanas de tratamento.

Existe alguma dieta que ajude no controle da AERD?

Não há dieta curativa, mas reduzir alimentos ricos em histamina (queijo curado, vinho tinto, frutos do mar) pode diminuir a frequência de crises. Sempre combine com acompanhamento médico.

Próximos passos

Se você suspeita que tem AERD, procure um alergista ou otorrinolaringologista especializado. Leve esta lista de sinais, peça o teste de provocação com aspirina e converse sobre a possibilidade de desensibilização ou uso de biológicos. A informação correta pode encurtar anos de sofrimento e melhorar drasticamente a qualidade de vida.

3 Comentários

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    Roseli Barroso

    outubro 26, 2025 AT 13:24

    É muito importante reconhecer que a AERD afeta a vida cotidiana de quem convive com asma e pólipos nasais. Cada pessoa tem seu próprio limite de tolerância a anti‑inflamatórios, portanto personalizar o plano de tratamento faz toda a diferença. Além das terapias farmacológicas, manter um diário de sintomas ajuda a identificar gatilhos silenciosos, como pequenas quantidades de álcool. Não esqueça de conversar com seu alergista sobre a possibilidade de desensibilização à aspirina; muitas vezes o ganho em qualidade de vida compensa o esforço. Por fim, apoiar amigos e familiares cria uma rede de suporte que pode reduzir o estresse associado às crises.

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    Maria Isabel Alves Paiva

    novembro 3, 2025 AT 08:36

    Uau, que texto completo!!!, adorei como você detalhou cada aspecto da doença,, desde a fisiologia até as opções de tratamento,, dá pra ver o quanto a gente precisa ficar atento,, 😅 e ainda tem a dica prática de montar uma lista de medicações proibidas, isso salva!,, nada como ter um plano de ação pronto, né?,, Se cuide, e lembre‑se de sempre levar o inalador de reserva!!! 😊

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    Jorge Amador

    novembro 11, 2025 AT 03:48

    A síndrome de Samter é, sem dúvida, um desafio clínico que requer abordagem multidisciplinar. A evasão de AINEs constitui medida preventiva essencial, pois a inibição da COX‑1 desencadeia a cascata inflamatória descrita. A desensibilização à aspirina, quando realizada em ambiente controlado, demonstra eficácia comprovada nos estudos internacionais. Recomenda‑se ainda a avaliação de terapias biológicas, como dupilumab, para casos refratários. A adoção dessas estratégias pode reduzir significativamente a morbilidade associada à AERD 🍀

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